segunda-feira, 28 de junho de 2010

Análise do poema: "Mãos Dadas"

Mãos Dadas


Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.


Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.



Em Sentimento do Mundo, 1940. -1. Mundo velho, que vai perdendo o significado. Revela a perplexidade ante os acontecimentos da segunda guerra mundial. A única realidade é a do presente. Daé a declaração inicial sobre o "mundo caduco" e o "mundo futuro". A espressão se repete em "Elegia 1938", no mesmo livro. -2. Na 1ª edição estava "cartas de suicídio", expressão mais genérica e menos concreta do que esta. -3. A imagem produz raiz bíblica, provavelmente. Ao enumerar as atitudes que lhe parecem de escapismo ou de alienação, para o passado ou para o futuro, o poeta utiliza um esquema de enumeração binária, bastante ordenado: do particular (mulher) para o geral (história); do escuro (suspiros ao anoitecer) para o claro (paisagem vista da janela); do estado de semi-incosciência (entorpecente) para o de inconsciência total (suicida); e do concreto (fugir para as ilhas) para o abstrato (raptado por serafins).

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