segunda-feira, 28 de junho de 2010

Análise do poema: "Cidadezinha Qualquer"

Cidadezinha Qualquer

Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar

Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.

Devagar . . . as janelas se olham.

Eta vida besta, meu Deus.

(Carlos Drummond de Andrade)



Em Alguma Poesia. - A partir do título, com a colocação de qualquer depois do substantivo diminutivo, se evidencia o tom crítico do poema. Esse tom se objetiva no aspecto estático da 1ª estrofe: na ausência de pontuação, misturando as coisas; na ausência de verbos, revelando monotonia. O único verbo tem função nominal (infinitivo). Na 2ª estrofe se encontra um verbo de movimento (ir), mas está freado pelo advérbio devagar, numa estrutura idêntica para todos os sujeitos (homem, cachorro, burro). Por isso a ação se apresenta monótona, em câmera lenta. Com a inversão da frase, repetindo-se o advérbio no início do verso, antes do sujeito, mas ainda se acentua o aspecto de monotonia: o próprio sujeito desaparece, metonimicameente, nas janelas que olham passivas. Fica a impressão de que as coisas e a vida da cidadezinha vão rolando calmas (frequência de fonema r), reticentes (as reticências) pelo ar (a terminação -ar comum no poema). No final, o espanto: a exclamação eta, variante de eita, é popular com que no Nordeste se indica a parada, principalmente de animais.

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